4 de janeiro de 2016

PK (2014)




Esse filme tem milhões de coisas pra falar desde o mais banal ao mais importante. Todo filme do Aamir tem uma missão, uma mensagem a ser transmitida para aqueles que assistem e PK (2014) não poderia ser diferente. O principal tema desse filme muito incomodou em toda a Índia, como um pouco de pesquisa pode-se perceber quantas revoltas ele causou em todas as religiões presentes por lá.
Nas poucas reportagens que eu li, todas falavam sobre a indignação dos religiosos e as reportagens sempre com uma imagem em que estavam queimando o pôster que estava marcado com um X vermelho. Outra polêmica que percebi foi o fato do poster principal do filme ter o Aamir inteiramente pelado (isso é bom amigos, não reprimam. 'risos'), no qual homens de setores tradicionais da sociedade indiana pegaram toalhas e amarram envolta da cintura do Aamir. Seria cômico, se não fosse trágico toda a crítica que o Aamir faz ao 'setor' religioso estivesse repercutindo na vida real quase que similar ao filme.

*A partir daqui o texto pode conter spoilers*
*Esse post vai ser cheio de gif e se reclamar eu coloco o dobro, não o triplo*


Eita! Eita!
Temos mil motivos para assistir PK, mas nenhum deles é tão estimulante quando esse bem aqui: Aamir chegando a terra peladão. Na idade do Aamir manter um corpaço desse, não é fácil, coleguinhas. Ótimos 50 anos. Vale destacar que ele também foi/é meu primeiro amor do cinema indiano. (risos)  Além desse motivo muito bom, o que mais deixou animada com o filme foi toque dramático, romântico e  de comédia que foi dado ao filme. Com um tema principal tão sensível como a religião, não me espanta que ele tenha causado tanta confusão e tanta revolta na Índia. 

Acredito que até entre os brasileiros, se o foco principal fosse a religião, com certeza teríamos o mesmo sinal de revolta. Pode até não parecer, mas o Brasil é sim um país muito religioso. A crítica alinhada de humor desperta no telespectador uma mistura de sentimentos, que pra mim ficaram indefinidos porque a toda hora eu era tomada por um misto de emoções diferente. Quando eu estava assistindo o começo do filme, eu imaginei que séria mais um daqueles filmes bizarros com ET's que falavam de religião, mas fui surpreendida. Toda a trama do filme é baseado é um simples desejo daqueles que estão longe de casa: O desejo de voltar pra casa. Toda aventura começa quando PK (que ganha esse nome ao longo da história, já que ele chega a Terra sem nome) chega a terra para reconhecer terreno para que sua especie humanoide possa habitá-la e é roubado, o objeto que o roubam é o seu comunicador que permitirá que ele volte para casa. Tão logo o filme apresenta PK, ainda sem nome, ele trata de introduzir outro personagem muito importante na composição do filme: Jagat Janani Sahni, ou como ela prefere ser chamada Jaggu. 


Pessoas lindas me digam: Fui a única pessoa que amou a Anushka com esse cabelo curtinho?

Quem é Jaggu no jogo do bicho? Jaggu é uma garota indiana morando na Bélgica. Produtora e jornalista de TV, uma garota independente, mas ainda muito ligada a família. O trecho inicial do filme apresenta o nascimento do romance entre Sarfaraz e Jaggu. E pasmem, esse é o primeiro indicativo de um conflito religioso no filme. Por que? Porque Jaggu é hindu e Sarfaraz é muçulmano. Em um primeiro momento logo há um estranhamento entre o casal, mas ele é vencido segundo depois por causa da afinidade apresentada entre eles durante sua tentativa de assistirem um recital. O que antes era estranhamento foi aos poucos sendo derrubado e logo se transformou em amor com expectativas duradouras.



Cena mágica com o boy. Gostei! Gente!
A Anushka tá linda demais
No entanto, Jaggu tinha que está disposta a apresenta-lo para a família e, principalmente, que eles o aceitassem. Durante uma videoconferência fala para a sua família sobre seu romance, seu pai tão logo ouve que o seu namorado é um muçulmano leva o computador, ainda ligado na videoconferência, para o Guru a quem ele muito respeita, o guru Tapasvi Maharaj. Tão logo o guru ouve que o rapaz é um muçulmano ele profere uma profecia dizendo que o menino irá machuca-la, pois tal ação é do feitio de muçulmanos. Jaggu discorda e afirma que se casará com ele no dia seguinte para provar que o guru está errado. Ela decidamente pergunta a Sarfaraz se ele a ama e se ele se casaria com ela no dia seguinte. Ele pontualmente afirma que sim, então decidem irem ao registro civil para se casarem. Mas o óbvio acontece, quando Jaggu está no registro civil entra um garotinho com uma carta que dizia sobre as diferenças entre eles e sua familia e que isso não daria certo, e que por isso não poderiam se casar. Jaggu de frente a essa realidade, não pensa muito e volta para Índia.



Voltemos ao nosso querido PK. Bem, PK chegou a terra pelado e foi roubado. E para isso sai caminhando por aí até encontrar uma vila, lugar onde ele vai ter um contato mais direto com os humanos da Terra.
Ele tentando aprender o idioma nativo da vila, mas quase
impede um casamento. hahahahahaha
Na vila PK vai viver situações hilárias próprias de quem está começando a conhecer o mundo. PK não tem as noções básica da vida de um ser humano terráqueo e também não fala. PK encontra Jaggu ou Jaggu o encontra e fica muito interessada pela história de PK, pois eles se encontraram no metrô, enquanto PK entregava folhetos perguntando 'Onde está D-us*?'. E então, Jaggu ficou interessada pela figura de PK e quando eles estreitavam laços ele foi contar a ela a sua história. Falou sobre sua vida depois que chegou a Terra, como conheceu o melhor amigo e como aprendeu a falar. Um detalhe importante e divertido sobre PK é o que ele precisa fazer para obter conhecimentos sobre aquela terra e aquele povo, ele precisaria de um gesto muito simples, mas de um valor cultural enorme na Índia, que é o segurar a mão de outra pessoa. 



PK lidando com as pessoas
no seu dia-a-dia antes de aprender a falar.

PK vai viver muitas situações engraçadas na vila até ser atropelado por aquele que vai se tornar seu amigo, Bhairon Singh. PK chegou a Terra e não sabia lidar com as pessoas, com as roupas, com os carros e com dinheiro, e coisas importantes para a sua sobrevivência. Umas das minhas cenas favoritas do filmes, que se repetiu várias vezes ao longo do filme foi o lugar onde ele conseguia, roupas e dinheiro, os famosos carros bailarinos. Eu fico imaginando como o povo indiano reagiu a essa cena, não por ela ser engraçada, mas por sugerir sexo em um situação fora do lar, levando em consideração que na imaginação popular sexo no carro, sugere sexo fora do casamento e sexo antes do casamento. Podem dizer que a Índia está ficando moderna, mas não tão moderna a ponto de achar "carros bailarinos" uma coisa comum nas suas ruas escuras ou afastadas, mas esse não é ponto no momento para discutirmos. Esses momentos na vila vai render boas situações que nos farão rir muito e acrescer ao roteiro um pouco de leveza, levando em consideração o tema principal do filme, a religião. 


Eis o melhor amigo de PK na vila, Bhairon Singh.
PS: Com a atual situação do Sanjay fico me perguntando se não tem o dedinho 
de treta dele pra poder participar desse filme e outra questão que me surge: 
não era pra ele está preso e se está como participou do filme??
Ao contar sua história pra Jaggu, PK toca no ponto mais importante de todo o filme e que tentarei apresentar pra vocês o porque desse filme ter se tornado um filme mais que especial pra mim e um dos mais importante feito pelo Aamir. Eu sempre fui apaixonada pelo trabalho do Aamir, mas a forma como ele conduziu a questão da religião e religiosidade neste filme me deixou particularmente muito apaixonada e envolvida por esse filme. Como apontei anteriormente o que leva PK a religião é o seu desejo de voltar pra casa. Quando PK saí da pequena vila e vai para Délhi em busca do seu controle de contato com a nave, ele questiona a todos e qualquer um sobre 'onde ele pode encontrar o seu controle'. Todas as pessoas abordadas respondem de maneiras diferentes, mas o apontam uma figura em questão, e então, eis o momento em que D-us e as religiões entram no contexto do filme. Sempre que questionava, ele obtinha quase sempre a mesma resposta: 'Só D-us quem sabe' 'Só D-us pode te ajudar'. PK estava sempre buscando por D-us em todos os templos e sempre que se envolvia em alguma confusão perguntavam para ele se estava bêbado, e por isso ganhou o nome de PK (peekar, que significa bêbado, em hindi).


Sim, queridos coleguinhas esse é o carro bailarino, em que ele consegue roupas,
 é o guarda-roupas dele. A cada carro bailarino que aparecia eu,simplesmente, morria de rir.

Não importava se a pessoa que fosse questionada era hindu, muçulmana, cristã, zoroastrista ou qualquer outra, sempre delegavam a D-us a missão de ajudar PK. Ele vai a todas os templos de todas as religiões seguindo fielmente o que cada um pede, mas nunca obtinha sua resposta. Tão grande era o seu desejo de encontrar seu comunicador, que ele entra em desespero. Em uma de suas buscas por D-us ele encontra seu comunicador em conferência religiosa do guru Tapasvi Maharaj, que afirma que aquele é um pedaço do tambor de Shiva, e que o mesmo foi presenteado por D-us para que em sua homenagem fosse construído um templo, mas quando PK tenta explicar que aquilo não é o tambor de Shiva e sim seu controle que foi roubado, ele é expulso da conferência pelos seguranças de Tapasvi Maharaj, e percebe não conseguirá seu controle tão cedo.


Essa cena quebrou meu coração em mil pedacinhos. Aqui PK já recorreu a todos os deuses
e todos os rituais e não teve seu pedido atendido. Chorei copiosamente aqui.
Ainda que o desespero tenha dominado seu coração, PK jamais desistiu de voltar pra casa e nem perdeu as esperanças. Quando contou toda a sua história a Jaggu, ela duvidou que de sua história, e achou que ele estava louco. Depois que ele comprovou a sua história Jaggu começou toda uma jornada na tentativa ajudar PK a conseguir seu controle, mas também de desmascarar aqueles que fazem da religião um negocio, uma empresa. É quando por uma ligação feita por engano que PK entende, que os gurus ou lideres religiosos possuem algo parecido como uma linha telefônica, e que talvez eles estejam ligando para o lugar errado e alguém estejam brincando com eles para que não atendam os pedidos dos fieis. Então, Jaggu não explica para PK que esses religiosos estão na verdade estão enganando seus fieis. E então Jaggu inicia a jornada para conseguir o controle e desmascarar Tapasvi Maharaj, com o quadro televisivo "Número Errado", que consiste em vídeos enviados pelo público quando percebesse que algum religioso estava se aproveitando da fé de seus seguidores.


Quando essa Jaggu lança essa disputa pela verdade entre PK e Tapasvi, vários grupos religiosos, no filme, começam a se manifestar. O que desencadeia conflitos em todos os lugares e principalmente, entre Jaggu e sua família, especificamente com seu pai, que era um seguidor fiel de Tapasvi. Nesse momento podemos, então perceber a imensidão da importância da religiosidade no cotidiano indiano. E o que seria religiosidade? Não é a mesma coisa que religião? Não! Religiosidade e religião são termos completamente diferentes, mas que estão inseridos no mesmo contexto. O conceito mais comum de religião é que a religião é um sistema comum de crenças e práticas relativas a seres sobre-humanos dentro de universos históricos e culturais específicos. Esse conceito é amplamente comum entre os estudiosos de história da religião, esse conceito foi citado em um artigo da Prof. Karina Bellotti. Já a religiosidade pode ser entendida como uma experiência pessoal e única da religião, ou seja, “a face subjetiva da religião”, tal conceito é citado no artigo do Prof. Ênio Pinto.


Dito isto, podemos entender um pouco o porque dos problemas de tocar em um assunto delicado como religião, pois nela está implícita a religiosidade, e uma linha tênue separa a instituição da fé, pois uma religião da qual ninguém nela têm fé, ela se torna obsoleta, sem contar que a religião é o caminho de condutas morais de uma sociedade, e contesta-la seria o mesmo que desmerecê-la ou desacreditá-la. E por isso falar de religião é tão incomodo, ainda mais em um país impregnado pela religião como a Índia, em seu território existem adeptos do Hinduísmo, Islamismo, Cristianismo, Sikhismo, Budismo, Jainismo e algumas outras. Cada religião possui seu conjunto de regras, mas apenas seus fieis com sua atitude espiritualizada pode legitimar tal religião. Questioná-las seria o mesmo que tirar o norte da vida de muitas pessoas, e isso pode ser perigoso, assim como uma sociedade viver inteiramente a serviço da religião pode ser perigosa.


No entanto, PK tenta chamar atenção para aqueles que abusam do poder simbólico que a religião lhes proporciona. Um dos pontos altos do filme é o debate que acontece entre PK e Tapasvi, em que acontece próximo de um fato recente, em que um ataque terrorista muçulmano acontece a um trem tirando a vida do seu amigo. Tal ataque é dado como resposta para o questionamento de Jaggu sobre a religiosidade subjugada dos fieis de cada religião. Quando PK menciona o fato, o guru Tapasvi zomba dele por buscar resposta sobre um ataque terrorista muçulmano enquanto debate com um hindu. Atualmente na Índia, tem acontecido diversos ataques terroristas com teor religioso na Índia, e não por menos acentua ainda mais esse conflito quase milenar existente entre os hindus e muçulmanos. Acredito que a questão central do filme sobre como praticar a sua religiosidade, consiste na frase em que PK diz que, se os homens se preocupassem mais em ajudar o próximo, D-us estaria prontamente hábil para ajudar a todos simultaneamente. E por isso me lembro da saudação hindu que se tornou referencia no mundo da fé hindu, que é o Namastê, o D-us que habita em mim saúda o D-us que habita em você. E a grande lição de PK não é a que tenta desestruturar a religião e sua prática de religiosidade, mas sim, a lição de que apenas buscando a compreensão do outro você será capaz de encontrar D-us e praticar a verdadeira religião.

Outra mensagem importante que o filme deixa, e que eu esqueci de mencionar antes de apresentar a questão religiosa do filme, é a mensagem sobre amar. PK é um personagem que pra mim se tornou o mais singular a maravilhoso de todos os filmes do Aamir. Durante toda a aventura de PK e Jaggu para recuperar seu controle, ele se apaixona por ela e está disposto a abandonar a sua terra natal para ficar junto dela. No entanto, nessa jornada ele descobre sobre o amor de Jaggu e Sarfaraz, e então sua empreitada acaba tornando-se um empreitada para recuperar o seu controle e o amor prejudicado de Jaggu e Sarfaraz. Quando ele consegue e chega a hora de voltar pra casa, por causa de um rádio gravador que PK leva sempre junto de si, Jaggu descobre que PK se apaixonou por ela. Mesmo sem admitir para ela, Jaggu é capaz de reconhecer que PK talvez seja o humanoide mais especial que ela já conheceu, já que a sua atitude mais nobre foi abrir mão de seu amor, para que ela fosse feliz ao lado do homem que ela amava. Mas também vale destacar que foi muito divertido ver como ele se apaixonou por ela, o que rendeu ótimas e divertidas cenas.


Zoobi Doobi Zoobi Doobi Pampaara Zoobi Doobi Parampam
Zoobi Doobi Zoobi Doobi Naache Kyun Paagal Stupid Mann...
EPA! EPA! EPA! Filme errado!
É isso aí pessoal,

Até a próxima.


*Porque Deus sem o e, D-us? Apesar de acreditar em um único Deus, eu faço de tudo para não negligenciar o deus do outro. E por isso com um -, eu não precioso negligenciar ninguém e nem a minha fé. Um sinônimo de compreensão e respeito pelo outro. Uma coisa simples, mas que pra mim faz toda a diferença. Bem, não é uma questão de tirar o 'e' ou qualquer outra letra, mas de deixar incompleto para que qualquer possa se encontrar nele, para que qualquer um saiba que ali pode residir qualquer deus, o D-us que você acredita.


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