14 de maio de 2018

Hichki (2018)


Finalmente! Aqui temos um filme com uma temática maravilhosa que me faz lembrar o ano de 2007 quando Taare Zameen Par foi lançado. Como todos sabem TZP é um clássico entre os educadores e também entre os amantes dos filmes indianos, principalmente daqueles que admiram o trabalho do perfeccionista, Aamir Khan. Acredito que Rani com seu filme Hichki não deixou a desejar e caminha lado a lado com TZP em sua grandeza temática e proposta. 

Esse filme é um dos filmes em que o cinema da Índia que buscam trabalhar com a saúde mental ou algum transtorno neuropsiquiátrico ou biológico. Hichki veio para se juntar a filmes como Black (2005) que aborda o Alzheimer, Taare Zameen Par (2007) que aborda a dislexia, Anjaana Anajaani (2010) que aborda o suicídio, Karthik calling Karthik (2010) que aborda a esquizofrenia e o transtorno dissociativo de identidade, My name is Khan (2010) que aborda a síndrome de Asperger,  Barfi (2012) que aborda o autismo e Heroine (2012) que aborda a bipolaridade. 

Gostaria de também de pontuar que o filme apresenta uma temática que o liga aos filmes anteriormente citados, que é a Síndrome de Tourette. Apesar de não ser o plot principal do filme, no meu ponto de vista, o filme pontua as dificuldades e a superação da personagem diante dessa desordem neurológica. Destaco desde já que a principal temática do filme são as deficiências de um sistema educacional que atinge o mundo muito além da Índia. Filmes que apresentam o sistema educacional como temática são: Taare Zameen Par (2007), 3 idiots (2009), Stanley ka dabba (2011)Hindi Medium (2017).

Educação, segregação e superação.


Uma professora que tem síndrome de Tourette, mas está disposta a desafiar o sistema educacional
de uma escola a favor de um grupo de alunos desprivilegiados e desassistidos. 

- Uma sutil abordagem sobre o stigma da síndrome de Tourette.
É muito difícil para uma pessoa que tem a síndrome de Tourette, ou qualquer outra síndrome, não sofrer com os preconceitos da sociedade e até mesmo da sua família. Para Naina, as dificuldades a acompanhavam desde a infância no qual a fez ter problemas de relacionamento com o pai e dificuldades de ser compreendida dentro das escolas que ela passava. Antes de chegar a sua última escola, o Colégio Saint Notker, que futuramente também seria seu local de trabalho, Naina sofreu com professores que não sabiam ou não estavam dispostos a lidar com uma aluna especial como ela. As dores que uma criança precisa enfrentar diante da vida é muito bem definida na infância dela, de modo que a vergonha do pai e a indiferença de professores e alunos diante de sua condição eram os motores das dores da pequena Naina.



No entanto, Naina não se deixou abater por essa indiferença, preconceitos e dificuldades. Ela andou de cabeça erguida e quando cresceu decidiu ser professora. Naina era uma profissional extremamente qualificada, mas devido a sua condição, ela era frequentemente rejeitada. Até, enfim, conseguir uma oportunidade de trabalho na escola que a acolheu na sua infância, o Colégio Saint Notker. Durante sua entrevista de emprego, ela já se encontra diante da dificuldade de ser aceita pelos membros do corpo docente da escola, mas seus desejos e força de vontade não deixam ela se abater. Naina tem sempre uma resposta pronta para todos aqueles que querem desqualifica-lá ou desmotivá-la do seu objetivo de ser uma professora.


- Um cenário comum, mas com um nome que faz toda diferença.
Acredito fortemente, que a escolha pelo Colégio Saint Notker, para ser o principal cenário desse filme, não foi à toa. O Santo Notker foi um monge medieval que era dotado de profunda inteligência, porém gago. Não que a personagem tenha a gagueira, mas possui tiques vocais involuntários e recorrentes. Que de imediato chamou a minha atenção para uma fala de Naina durante a sua entrevista de emprego por sua semelhança com uma fala de Ekkehard IV, um pupilo de Notker sobre o mesmo. Em sua entrevista Naina fala: "Tourette afeta minha fala, senhor. Não o meu intelecto.". E em um dos textos medievais de Ekkehard IV, ele descreve o seu tutor de maneira similar: "de corpo delicado, mas não a mente, gago da língua, mas não do intelecto,(...)". E com isso Naina mostra e afirma o ponto em que tem a capacidade de ir muito além do que esperam dela. Quando eu vi isso, meu lado historiadora gritou na mesma hora.




- O retorno de Rani, bem acompanhada e ao som de trilha sonora criativa
Depois de uma temporada afastada das grandes telas, Rani volta com este drama maravilhoso. E ela não voltou sozinha, Rani veio acompanhada de um elenco teen que surpreende com uma boa atuação e traz um frescor juvenil a atuação bollywoodiana, e detalhe importantíssimo, com parte do elenco de TV e cinema regional. Por incrível que pareça, o elenco juvenil não é inexperiente, são um grupo de adolescentes que estão na carreira artística há um tempo relativamente bom, o que comprova que a escolha do elenco foi escolhida com muito cuidado e temos que admitir que foi um escolha muito acertada.

A trilha sonora não é feita de músicas que vão embalar seus dias, se você é um amante da música indiana, moderna ou tradicional. As músicas desse filme foram produzidas para encaixar didaticamente no contexto e temática apresentada pelo filme a educação, no sentido amplo da palavra. Madameji go easy, é uma música em que os alunos estão aprontando todas com a Naina, mas a música demonstra a inteligência destes alunos que foram segregados e abandonados pela sociedade e pelo sistema educacional. Soul of Hichki é uma música que fala sobre suas esperanças, mas o plano de fundo mostra todas as adversidades que esses adolescentes precisam enfrentar para poderem conseguir um vislumbre de uma vida melhor através dos estudos. Uma das minhas músicas favoritas,  Khol de par, acredito que essa é a música central do filme, pois é a música que mostra o diferencial e o potencial do professor diante do desafio que é o ensino. 


- Uma educação baseada na segregação 
O plot do filme pra mim é bem definido no tema sobre a educação e o sistema no qual ela se envolve, uma vez que o filme, apesar da sua síndrome, se incia com a sua busca por empregos em diversas escolas e logo em seguida aborda sua infância diante do sistema educacional que não sabe lidar com a particularidade apresentada por Naina. 

Ao conseguir seu emprego, Naina se depara com uma turma de alunos "problemáticos", o que não é explicado para ela inicialmente é que esses alunos são considerados diferentes dos demais alunos por causa de sua condição social. Devido a dificuldade desses alunos em acompanhar o ritmo dos demais, eles foram separados e abandonados por seus professores que os viam como um problema e uma mancha para o nome que o Saint Notker carregava.

Os considerados alunos exemplares e dignos do Saint Notker tinham oportunidades e situações de vidas completamente diferenciadas da vida desses alunos, que foram jogados na turma 9F. Não, não é ao acaso que a turma de alunos problemáticos e manchadores da honra do Saint Notker ficam com a sala 9F, F de Failure (Fracasso).  Diferente dos melhores alunos da escola que se encontram na sala 9A, os alunos da 9F tiveram e tinham que abrir mão de suas vidas enquanto crianças e adolescentes para trabalhar, tinham que dormir em lugares excêntricos porém comuns a sua vida difícil, de modo que suas vidas não permitiam as regalias de aprendizagem que os alunos da 9A possuíam.


- Por uma educação com metodologia multidisciplinar e diferenciada
Esse tópico é o meu preferido dessa postagem, por quê? Como historiadora e futura educadora, desejo alcançar o que Naina é como professora, tutora e mestre. Naina é uma profissional que deixa de lado os métodos convencionais para dar uma aula interdisciplinar, que voa da matemática para a física, pula na química e mergulha na biologia. Para ela não existe o modo certo e o modo errado de ensinar, para ela o que existe é passar o máximo possível de conhecimento para essas crianças.

Naina encontra dificuldades e resistências a sua metodologia de ensino? Com toda certeza. Na figura do Prof. Wadia, Naina encontra um "adversário" que amante do sistema convencional tenta desqualificar o método de ensino de Naina ao classificá-lo como 'mágica'. Wadia é o típico professor que quer seguir as regras como elas estão explicitamente definidas, sem buscar formas de melhorar e dinamizar o seu método de ensino, e diante do diferencial de Naina se sente ofendido e ao mesmo tempo acuado, ao perceber que até mesmo entre os alunos de sua turma de melhores alunos, há alunos que se sentem atraídos pelo diferencial do método de Naina.

Na vida real não é muito diferente, dentro das escolas e universidades nos deparamos constantemente com professores e mestres que estão presos aos métodos convencionais e sentem-se acuados diante da diversificação de metodologia. Embora dentro das universidades levantem a bandeira da Multidisciplinaridade, a prática é muito diferente do discurso.  Na prática se armam de um discurso bem elaborado, mas com pouca efetividade e muito pouca ação.

Naina diante de suas dificuldades mostra que é possível superar o diferente e as particularidades e fazer da educação um lugar melhor. Mas diferente do que Wadia prega, não é preciso mágica, é preciso, é necessário esforço, força de vontade e dedicação.


Existe o professor que é bom, o professor excelente e aquele que é excepcional.
O professor é a estrela polar, a estrela guia para a mudança que a educação precisa. 


O que achei do filme? 
O que foi bom: Hichki nos traz o frescor, a delicadeza e a inteligência que não via há muito tempo desde os clássicos filmes do nosso grandioso Aamir Khan, com Taare Zameen Par e 3 Idiots. A forma como os métodos de ensino e o sistema educacional são abordados no filme têm uma delicadeza surpreendente que nos faz ficar hipnotizados pelo filme do começo ao fim.
O que foi ruim: Não é que tenha sido ruim, mas acredito que simplesmente esse não era o plot principal do filme, que foi a pouca abordagem sobre a síndrome de Tourette, que foi reduzido a um simples bordão que ela repete várias vezes no começo do filme, mas que ao longo da trama é esquecido.  Debater o tema é importante e por isso espero que futuramente Bollywood ou o cinema da Índia de modo geral possa abordar com mais ênfase o tema.
Assistir ou não assistir: Por todos os deuses, ASSISTA! Rani volta com tudo e mostrando que é possível se reinventar e buscar novos horizontes de atuações. 







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Um comentário:

  1. Boa noite! Onde posso ver ou baixar esse filme? Procuro por todo lugar e não encontro

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